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Páginas Escritas

Verdades ocultas como meios de sobrevivência

Já experimentou dizer somente a verdade?


A pergunta é meio capciosa, reconheço.


Mas quero abrir uma fresta para olharmos um lado nosso que podemos chamar de obscuro, que costumamos não invocar e que, por ser tão subjetivo, preferimos nem trazer à tona.


Trata-se de um detalhe que passa ao largo do nosso senso crítico: de que é impossível viver o tempo todo dizendo a verdade, apenas a verdade, nada mais que a verdade.

Antes, vale a ressalva: não estou falando em mentir. Ou de se usar a mentira em lugar de falar a verdade, mas sim da autodefesa que nos leva a tornar uma verdade oculta.


Também não trago aqui o hábito de se esconder qualquer verdade, de se faltar com a verdade quando preciso for, pois aí já se configura um desvio de caráter. Me refiro mesmo ao aspecto subjetivo, inerente aos hábitos diuturnos que praticamos, de não se dar à verdade um valor gratuito.


Agora explicando:


Entendo como ocultar a verdade um ato que praticamos intuitivamente, por instinto de sobrevivência, de maneira espontânea e não planejada, circunstancial, quando sabemos que se formos direto ao ponto, a pura verdade poderá nos ferir - ou até ferir alguém.


Naquelas situações cotidianas em que, não importando onde nem quando, ao dialogarmos com as pessoas -  conhecidas ou não, entes queridos ou não, por questões profissionais, pessoais ou banais - vem aquele estalo mental e percebemos que não precisamos ser tão literais, expressando em palavras exatas um determinado fato, quer seja sobre nós, quer seja sobre outro alguém.


Aquele breve momento em que sentimos que a verdade plena e absoluta não nos convém, o instante em que ocultar a verdade amenizará um fato passado, suavizará um momento presente e não causará um transtorno futuro.


E fazemos isso sem pedir licença nem desculpa, sem sentir culpa nem remorço,  sem constrangimento e sem fuga ao pudor. Mesmo porque é por si próprio que se está sendo praticado esse ato insólito. E que se bem não o fizer, mal também não o fará.


Sei que ao ser colocada assim, pode parecer que a verdade essencial fica escancarada.


E ainda...


Os mais puritanos poderão erguer uma bandeira em prol da verdade máxima a qualquer custo. (Hummm... sei...)

Os indiferentes vão dar de ombros e talvez até confundam isso com uma "mentirinha de leve". (Bom, paciência...)

E os ardilosos vão soltar o verbo seguido do dito popular "uma meia verdade é uma mentira inteira". (Whatever...)


Pois bem, do meu ponto de vista, prefiro a certeza de que às vezes é melhor uma verdade oculta que revela o mundo real a uma verdade absoluta que tapa o sol com a peneira.

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