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Páginas Escritas

Apenas três minutos para ser feliz

Calma, que a vida espera! - diz um dito popular.

Mas não! A vida não espera. Talvez porque a pessoa não espera, o tempo não espera, ou simplesmente porque toda espera é mera ilusão.


O ato de lidar com a espera, que antes era relativo, hoje é imediato. E a sensação de ver o tempo passar, que já foi quase imperceptível, agora é motivo de angústia por passar tão rápido.


Será que os dias estão mais curtos, que as noites de sono são menores, que os anos estão voando? Não há provas científicas sobre isso, mas é provável que a velocidade do tempo aumentou porque nossas mentes não sabem mais a medida exata do tempo de espera. Nossas práticas diárias não cabem mais no prazo certo de duração dos ponteiros do relógio.


Mas onde estão os ponteiros do relógio? Atualmente são menos utilizados. As horas, minutos e segundos do mundo moderno foram trocados por algarismos, seja em relógios de pulso ou de parede, seja em painéis urbanos ou em aparelhos eletroeletrônicos. Vícios da era digital, como se fosse pra nos lembrar sempre de que o tempo urge, como se o ato de ver as horas fosse em cronômetros, a todo momento nos avisando de que o tempo está acabando. Assim como nossas ações, providências e afazeres vão sendo medidos menos vezes pelo tempo que vão durar e mais vezes pelo pouco tempo que restam.


São esses lapsos que fazem com que pequenas angústias no subconsciente tornem qualquer minuto a mais de espera numa frustração de expectativas, causando uma certa dor na alma.


"Tempo é dinheiro" ou "não tenho tempo a perder" ou ainda "mal posso esperar"... esses dizeres corriqueiros servem pra resumir o modo como estamos ávidos pela pressa e a urgência.


Essa sensação de espera é pior ainda  porque hoje em dia andamos/dirigimos com aplicativos ligados pra mostrar hora e minuto exato que vamos chegar a um destino. E se não chegamos no tempo exato, pontadas de agulhas parecem nos espetar como castigo pelo atraso, que mesmo não sendo reclamado por alguém, nos penitenciamos. Antes não era assim. Fazia-se um cálculo mental da previsão de chegada a um local e deixava-se levar pelo sabor da descoberta do tempo e da distância real.


E o que dizer da espera por resposta? Os comunicadores instantâneos (e-mails, aplicativos de mensagem e afins) que hoje usamos de forma massiva causam pequenas torturas mentais quando a pessoa contatada não responde em tempo hábil (defina-se, alguns três minutos, por exemplo) e dependendo do assunto da mensagem, algumas porções de infelicidade vão tomando conta de nossas esperas. Antes não era assim. Escrevia-se cartas, que levavam três ou mais dias para chegar ao destinatário.


Conversa por telefone era muito comum via orelhão público, cujo tempo podia ser medido pelos três minutos de duração da ficha. Quando não livre, havia fila no tal orelhão de rua e ao invés de angústia, a espera pela ligação não passava de ansiedade.


Quem alguma vez não quis que um dia durasse mais que 24 horas? Pode ser um modo figurado de dizer, mas isso significa uma vontade contida de querer esticar o tempo, prolongar um momento de felicidade ou apenas terminar tarefas, conquistando um pouco mais de  tempo para ser feliz.


Uma verdade inevitável: não temos tempo a perder e não queremos perder tempo. Queremos sim, ser felizes por pelo menos os três minutos que o ponteiro invisível da rotina moderna vem descontando do nosso salário vital.


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