Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Tudo, como um todo, é composto de mudança;
Diferentes em tudo da esperança
Do mal ficam as mágoas na lembrança
E do bem, se é que algum houve, saudades.
E afora este mudar-se a cada dia
Nada pode tirar-me toda a esperança
Que mal me tirará o que eu não tenho?
Pois não temo contrastes nem mudanças,
Onde esperança falta, lá me esconde
Um não sei quê, que nasce não sei onde;
Vem não sei como; e dói não sei porquê.
Quando não te vejo perco o siso
Quando então te vejo ganho um sorriso
Abre-se no âmago a ânsia de intento
Por tal formosura do céu a mim descida
Satisfazendo-me a todo pensamento
Sem que sejas de algum bem entendida.
Tão atrevida pode haver tal língua!
Louvar-te venho por tamanho atrevimento,
Pois a parte melhor do meu entendimento,
Se em teu valor contemplo a menor parte,
Logo o engenho me falta, o espírito míngua.
Se quando sonho encontro o paraíso
É que nada pode tirar-me qualquer esperança
Ao fim, mudar-se-ão os tempos, também as vontades.